Amor Continente

 Em gratidão

hoje, 6 de maio de 2014, Márcio Cavour partiu para o andar de cima. Tio Márcio, pessoa fundamental na minha formação. Tio Márcio, voz de trovão desde sempre me ancorando.
Como tributo, compartilho um texto que escrevi para ele em novembro do ano passado, quando ele enfrentava o último round de um câncer de 16 anos.
Com muitas saudades, seguirei  honrando tudo que ele me ensinou.

Lá nos meus quatorze anos, quando eu era ebulição, um pouco esgarçada pelo divórcio dos meus pais, sua casa me oferecia a paz de que minha adolescência precisava. Os limites oferecidos a Érica e Mitzi me ajudaram a encontrar meus próprios limites. Sua voz de trovão soava no meu peito. Você me ofereceu sua firmeza e sua firmeza me foi continente.
Mais tarde, com vinte e poucos anos, eu descobri a possibilidade de amor profundo. E seus 25 anos de casamento me fizeram vislumbrar um caminho atualizado de amor. Um caminho parceiro na vida presente, onde homem e mulher são protagonistas, de mãos dadas. Amor que atravessa montanhas e diferenças. Você, com tia Regina, foi exemplo de um amor de verdade e este amor me foi continente.
Para lá dos trinta anos, já estabelecida como profissional, em meio a dúvidas e assombramentos, você foi meu “chefe” no Balança.  Liderou mudanças e fez escolhas difíceis.  Seus valores sólidos iluminaram uma travessia nem sempre fácil, até mesmo impopular.  Você foi corajoso e íntegro e esta coragem e integridade me foram continente.
Agora tenho quarenta anos e descubro que a vida é incerta e só temos o hoje. Este hoje pelo qual vale a pena sonhar e lutar, mas lutar com muita compaixão e doçura.  Persisto na busca de uma vida inteira, cuidando do que é mais importante em meio a tantos vendavais.  E sua luta por estar vivo mais uma vez me mostram que é possível. Ser firme e doce. Ser grande e frágil. E sua fé, sua humanidade, sua força, sua resiliência, sua compaixão, sua humildade, sua doçura, seu otimismo me são continente.
Tio Márcio, nada posso te oferecer além de tudo que recebi de você. Sobretudo minha fé, minha fé  no melhor porvir. Que minha fé seja, para você, continente.
Meu coração, minhas preces e minha esperança estão aqui, pulsando como a sua voz de trovão dentro do meu peito. Envio esta pulsação para São Paulo, um lugar onde fui muito feliz. Neste hospital nasceram meus dois filhos. Nele espero que você também renasça, para juntos desbravarmos novos continentes.
Com amor,

Leticia
Recent Posts
Showing 3 comments
  • Lorena
    Responder

    Lindo! Lindo demais!

  • Antonio
    Responder

    Leticia, adorei sua homenagem a Márcio. Realmente ele merece que celebremos sua partida e não sua morte. Ele é daqueles que a morte é o começo de uma maravilhosa vida. Seu calvário na luta contra a doença já beirava o imensurável de uma tortura. Já tinha mostrado e ensinado a todos sua força, sua coragem, sua paciência, enfim mais do que um ser humano podia suportar, sem dizer um ai. Foi um verdadeiro herói numa guerra injusta como pensamos. Mas ele em sua sabedoria assim agiu como poucos aqui nesta terra e que hoje estão premiados com santidade. Ele não estava ali no hospital morrendo. Ele estava acima de seu corpo com uma luz visível somente aos lá de cima, esperando um grande amigo. Agora, com toda certeza está, pela sua luta e firmeza em sua fé, no comando de um exército de anjos a proteger esta nossa imensa família.

  • Angélia
    Responder

    Escrevi que Marcio foi de fato um baluarte na vida de muita gente inclusive na minha, assim como meu pai e teus avós Celso e Gisela, aos quais não tenho palavras pra agradecer o quanto foram importantes na minha vida. Tenho certeza que eles e Marcio estão juntos e rogando a Deus pra iluminar e abençoar teus caminhos, Letícia!! Um grande abraço!!

Deixe um Comentário

Entre em Contato

Não estamos aqui agora, mas você pode nos enviar um email e responderemos assim que possível.

Ilegível? Mudar Texto. captcha txt

Comece a digitar e pressione Enter para pesquisar