Éramos quatro

 Em Uncategorized

Éramos quatro.

Quatro irmãos profundamente diferentes, cada um com seu estilo próprio.

Com Bernardo, compartilhei experiências corporativas, os filhos da mesma idade.  Também compartilhamos a experiência de ter famílias recasadas, de lidar com a complexidade de guardas compartilhadas, os meus, os seus e os nossos.

Mariana, muito intuitiva, foi quem me ajudou a escolher o primeiro lar do Viver Mais Simples. Ela antecipou que eu moraria na rua Coelho Neto e eu estava com ela quando esbarrei no dono do apartamento que em seguida alugaria.

Com Caio, fui sócia da Argo, partilhei meus projetos autorais. Ele fez o design de tudo que criei. Eu organizei ideias dele e incentivei na bateria e no curso pouco ortodoxo para o pai engenheiro e a mãe médica.

Com os três, tentei ser um pouco mãe. Nenhum aceitou, cada um de seu jeito. E aos três agradeço por isto.

Com Bernardo e Mariana, vivi a dor da separação de nossos pais e o recomeço na casa com a madrasta. Vivenciei as viagens sozinhos para Brasília, onde mamãe morava.  Temos uma memória da vida em Niterói.

Abri caminhos para os três. E eles me retornaram com juros. Ensinando-me a ser mais desobediente, mais despreocupada, mais confiante na capacidade de cada um deles de tocar a própria vida do seu jeito.

Tenho memórias felizes com os três.

Choramos juntos nosso pai. Amamos juntos a Marília.

Vivemos muitos natais e poucos anos novos.  Celebramos a chegada do Léo, do Alê, da Olivia, da Bibi e da Gisela.

Bernardo e Mariana foram meus padrinhos no primeiro casamento. Caio foi pajem.

Eu batizei Alê. Bernardo batizou Gisela. Caio batizou Bibi.

Acolhi cada um de meus irmãos. Fui acolhida por cada um de meus irmãos.

Tive raiva, saudade, amor.

Os três habitam poemas meus. Os três habitam meu coração.

Este ano, uma enorme mudança.

Agora somos três. Caio, que chegou depois, nos surpreendeu. Partiu antes.

Eu, Bernardo e Mariana.

De volta naquele tempo antes de 1989. Só nós três.

Tivemos diferenças. Temos. Mas no final, de um jeito ou de outro, atravessamos.

Os três que ficaram.

Não há um dia em que eu não pense na minha família. Toda a dor e alegria que vivemos.  A dificuldade de conciliar nossa individualidade.

As reações peculiares de cada um a nossas dores comuns: a morte, a doença, a loucura.

Nossa união na hora necessária: Os inventários, as festas de família, os velórios, os casamentos, os divórcios.

 

 

Hoje, um deles faz 45 anos.

Não poderemos comemorar como gostamos, com festa, bolo, piadas e implicância.

No entanto, posso ouvi-los no meu coração. Na última viagem de todos, naquela final de semana em Teresópolis. Nos lanches, onde futucávamos uns aos outros. No plantio do cajueiro de papai. Na entrega do Caio para o mar.

O amor não é suficiente, eu sei.  É preciso cultivo. Mas é uma raiz boa para florescer.

Eu eu floresço nas semelhanças e diferenças com meus irmãos e irmã.

Éramos quatro. Agora somos três. Neste plano, claro.

E eu desejo novas memórias, com mais celebrações do que despedidas. Mas sabendo que haverá despedidas.

E inventários. Sacríficios. Conversas difíceis.Fracassos.

E casamentos. Batizados. Formaturas. Abraços. Sucessos.

Resigno-me com as inevitáveis cicatrizes, antevendo as igualmente inevitáveis alegrias.

Hoje agradeço pela vida de meus irmãos que ficaram.  Especialmente o aniversariante.

Que as recordações doces e amargas iluminem nossos caminhos. E que sempre haja amor para recomeçar.

Artigos Recomendados

Deixe um Comentário

Entre em Contato

Não estamos aqui agora, mas você pode nos enviar um email e responderemos assim que possível.

Ilegível? Mudar Texto. captcha txt

Comece a digitar e pressione Enter para pesquisar