Pedestre no Rio de Janeiro: um desabafo

 Em solidariedade, vida pedestre

Sou uma carioca privilegiada, dizem,  destas que mora na  Zona Sul.
Trabalho ao lado de um dos edifícios mais lindos da cidade: o Teatro Municipal.
Isto tudo depois de ter vivido por sete anos em São Paulo, considerada um dos piores lugares do mundo em termos de trânsito, poluição e stress (deixando bem claro que eu amo São Paulo, acho uma bobagem esta rixa).

A vida perfeita? Infelizmente não.

Imagem: Kika Castro

Há quatro anos optei por ser pedestre. Este ano comprei um carro, mas ele fica guardadinho na garagem, para usos bem específicos.
Todos os dias eu enfrento as calçadas do Rio de Janeiro.  Enfrentar é bem o termo, isto aqui é uma selva.
Esgoto vazando continuamente, mesmo nas ruas “nobres”. Esta semana eram poças na rua São Salvador, um dos locais mais concorridos da “night” carioca.
As icônicas pedras portuguesas são uma tortura: desniveladas, soltas no chão. Junto com as calçadas antigas e irregulares, um atentado à acessibilidade.
Aliás, neste quesito, o Rio é uma cidade bastante hostil.  Além de poucas rampas para cadeirantes e carrinhos de bebê, temos muitos “cidadãos” que estacionam bloqueando as passagens para pedestre.
Os ciclistas, símbolo do mundo sustentável, não ficam atrás. Trafegam sobre a calçada, muitas vezes em alta velocidade e/ou na contramão.
Mais de uma vez tive que resgatar um filho desavisado de um atropelamento iminente.
Experimente criticar um comportamento  incivilizado num carioca. Receberá de volta impropérios, às vezes de tão baixo calão que até mesmo uma quarentona moderninha como eu se ruboriza.
Heranças da Corte, alguns dirão. Eu digo que esta malcriação nos custa muitos textos como este aqui, questionando o título “Cidade Maravilhosa”. E estes textos viram reputação. Até quando os turistas vão pagar o preço de nossa falta de educação para usufruir das belezas naturais e do lendário estilo de vida?
Tudo isso não era exclusividade da atual gestão municipal, vamos ser justos. Mas as mudanças generalizadas, numa simultaneidade caótica que desorienta motoristas e pedestres, sim.
Atravessar uma rua no Centro do Rio é atividade para corajosos, acho que será considerada modalidade no Iron Man, em breve.
Os guardas de trânsito estão obviamente instruídos a fazer o tráfego de carros fluir. A qualquer custo.
Com seus apitos infernais, ignoram o ritmo dos sinais de trânsito. Eu que pensava que havia engenharia e planejamento na cadência das luzinhas verdes e vermelhas.
Se havia, há muito foi para as cucuias.
E com a imprecisão natural dos seres humanos, estes agentes da “ordem” acabam permitindo ônibus e carros estacionados sobre a faixa de pedestres, dificultando o já insalubre ato de ser pedestre neste município.
Quem lê este blog sabe que não gosto de reclamar. Prefiro agir.
Mas após tantas violências sofridas ao tentar intervir ao vivo e a cores neste cenário de pouca solidariedade e nenhuma consciência do coletivo, decidi abrir o verbo.
Tento fazer minha parte. Quando estou de carro, evito fechar cruzamentos, mesmo submetida ao buzinaço dos colegas de volante.
Costumo respeitar sinal vermelho até mesmo à noite, pois não sei se é verdade que depois das 22h estão liberados (alguém me esclareça por favor). É ousado, confesso, pois o risco é grande. Mas não vou nem começar a falar do aumento da criminalidade neste texto.
Não sou profeta do fim do mundo em algum lugar entre a Copa e as Olimpíadas. Espero mesmo que tudo melhore um dia, com o fim das obras, a melhor educação do povo, a manutenção das ruas.
Mas enquanto isso não acontece, faço um apelo a você, indivíduo que pode interferir nesta realidade:
– Não buzine
– Não feche cruzamentos
– Não estacione em locais de passagem de pedestres
– Se for andar de bicicleta na calçada, com medo de ser atropelado, vá devagar e no sentido da rua.
– Não jogue lixo no chão (que entope ralos, que afetam as redes de esgoto e água, que se vingam voltando para cima).

Ah, se você for pedestre, também há regras. Não cruzar fora da faixa, não deixar seu cachorro deixar sujeira, não cuspir ou escarrar no chão, usar a lixeira… 

E para todo mundo: veja bem a trajetória e plataforma de seus candidatos na próxima eleição. Depois de eleito. Cobre.

Não sou ingênua. Sei que em outras cidades é também desafio ser pedestre. Mas tendo viajado e vivido em outros lugares, sinto que o Rio é um dos piores exemplos e isto me entristece, já que escolhi (por ora) criar meus filhos aqui, perto da família.
É isso. Vou voltar aqui para meu trabalho, um pouco mais esperançosa, mesmo ouvindo ao fundo o som de apitos na rua Evaristo da Veiga.
E você? Tem mais dicas de como melhorar o convívio entre pedestres, ciclistas e motoristas?

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