Sobre a arte de viver

 Em 2018, equilíbrio

Estar vivo é ser uma nova realidade a cada novo dia.

O que motiva a caminhada? Quais as alegrias? E os espinhos?

Viver é muito perigoso, diziam Guimarães Rosa e meu pai.  Porque é impreciso, diziam Fernando Pessoa e Caetano.

Imprecisão e perigo me assombram de tempos em tempos. Mais agora, que amadureço enquanto aprendo a ser órfã.

Compreendo que a arte de viver é a arte de gerenciar energia.

Nos relacionamentos.  Nos pensamentos.  Nas tarefas. Onde vou por meu foco?  Quem vai me rodear e por quanto tempo estaremos juntos?  O que me inspira? O que me drena?

Tudo isso no contexto de um corpo que evolui e envelhece. A interação entre este corpo e o mundo constrói o que é minha vida.

2017 foi um ano de novidades.

O amor que arrebatou o coração e despertou novas vontades, reorganizando o uso do tempo.

A morte que leva consigo certezas e garantias ilusórias, mas ainda assim estruturantes.

Amanheço 2018 mais sóbria. O amor mais de bom tamanho, o luto mais conhecido e suportável.

O ano que passou foi um turbilhão. Bem no final, levantei a cabeça do rodopio célere e tive fôlego para plantar algumas sementes que agora espero brotar, cultivando paciência e fé.

Andei distraída, ausente de muitos lugares, inclusive destas páginas aqui.

Lentamente, retomo o ritmo, resgato a disciplina. Um passo por vez, um texto por semana.

O foco torna-se sustentar a caminhada.  Equilibrar os pratos da maternidade, com atenção e diligência.  Cuidar do amor mais maduro, construindo pontes para atravessar os abismos de cada um.  Arar a terra para que os trabalhos vicejem, num ano de deserto reaprendendo a florir.

Para lidar com tudo isso, reconecto-me. Comigo e meus pulsos de alegria e recolhimento.  Nas trocas com queridos e na aprendizagem do silêncio e solitude.  Monitorando o estado da alma e do corpo, cuidando do que se faz urgente.

Lentamente, reencontro minha voz e uma sanidade alicerçada em cicatriz e  um certo otimismo.  Vigiando os excessos, os desvarios, o que me tira do eixo.

A arte de viver é escrita com letras miúdas, sussurros sutis.  Uso tudo que construí e até alguns arrependimentos.

A vida segue perigosa e imprecisa, abraço-me comigo, sustentando a coragem e afeto na palma de minhas mãos.

 

 

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