As coisas findas
Sinto inquietudes.
Percebo mudanças no meu dentro profundo, espelhando as ondas do que se move fora.
É tempo de recomeços.
Processos, relações, realidades encerrando-se.
Novidades no horizonte. Esperanças, possibilidades.
Sinto-me estranha.
Alguns dias, cansada como se fosse final de ano.
Outros dias, experimentando uma curiosidade ardente pelo que vem, com seu frescor e prosperidade.
Muitos dias, os dois sentimentos, ali de mãos dadas.
É tempo de podar árvores, desfazer-se dos galhos secos.
Lindas flores se avizinham, é preciso esperá-las.
Despeço-me, olhos abertos, das coisas findas.
Foram boas, pelo menos por um tempo.
Agora é preciso desprendê-las do peito.
As coisas findas tem um gosto ardido de saudade e morte.
Mas também são belas em sua finitude.
Foi necessário, o bom e o mau.
Foi degrau para subir, curva da caminhada.
Despeço-me e já vejo o dentro florescer. O novo brotar. A roda da vida dando um novo giro.
As coisas findas amarelavam-se nas gavetas do sentir.
Liberto-as.
E suas asas batendo para bem longe, são minhas próprias asas, prontas para o próximo voo.
Das coisas por vir.