O Poder da Música por Bernardo Carneiro

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Em momentos de perda,  o sentimento de solidão, de abandono, a dor do que ficou para trás. Tudo é assustador. 

Instantes onde ficamos face a face com aquilo que sempre nos acompanha. A presença inexorável de nós mesmos. 
Ficamos Sozinhos. Dói. 
Nos vemos olhos nos olhos da alma, sem máscaras, ficamos nus.
O frio vem.
Como sair do Inverno? Como aquecer a alma?
Abro o Spotify. Caetano Veloso, está lá. Aperto o botão. Começa a tocar “Sozinho”. 
“Eu fico ali sonhando acordado
Juntando o antes, o agora e o depois”
Olho para dentro. Penso no passado: o antes.
Faço um rewind da vida, buscando exatamente o ponto onde  as coisas começaram a sair do trilho. Onde o automático tomou conta e a roda viva girou? Onde começou a desconexão de algo tão conectado?
Roda Viva… Busco a versão da Fernanda Porto. Com aquela batida surda que dilacera o coração
“A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá”
Percebo que não temos controle de nós, do outro, da vida.
Fazemos a nossa parte e o universo conspira. Um sentimento assustador que me liberta.
Por um segundo…
O frio volta. Busco auxílio do tempo, a quem cabe final razão. 
Procuro meu amigo Gilberto. Penso na vida. O palco de tudo.
“Fogo eterno prá afugentar
O inferno prá outro lugar
Fogo eterno prá consumir
O inferno, fora daqui”
O tempo passa. 
Chega o Outono. 
Folhas caem. Conexões se formam. Sinto o inferno mais distante. O antes, fica mais antes do que nunca. Agradeço à Gilberto.
A Deusa música, minha constante companheira, me afaga.
É melhor ser alegre que ser triste? Sei lá.
Paro. Choro e percebo que se foi tinha uma razão. 
Será? Será que já foi?
A música me alivia.
Sigo pela playlist:
“Você é linda
Mais que demais
Você é linda sim”
Me pego sorrindo.
Um pouco mais quente.
Os dedos ansiosos tocam o fast forward.
Vem a Zizi Possi:
“Me descobrir tão sal e doce
E o que era amargo acabou-se
É bom dizer viver, valeu”
O piano enche meus ouvidos, liberta meu sorriso e com ele vou junto.
Saio de casa. Acelero a playlist:
“Pumped up Kicks” começa:
“All the other kids with the pumped up kicks
You’d better run, better run, faster than my bullet.”
Chego na praia do Leblon, ritmo acelerado.
Corro. Rápido.
O ontem vai ficando para trás. Não tão rápido.
Olho o mar. Lulu vem a cabeça. 
“Nada do que foi será 
De novo do jeito que já foi um dia 
Tudo passa, tudo sempre passará 
A vida vem em ondas, como um mar 
Num indo e vindo infinito”
Ondas: ciclos que se fecham. Espero o vai e vem passar. Ansiando pelo novo começo. 
Como as ondas, os ciclos se enroscam em nossos corpos. Refrescando a memória.
Me lembro da infância na praia. A cada nova onda-ciclo: uma queda e um aprendizado. Quanto maior a onda, maior o aprendizado.
Chega a primavera.
Percebo as flores. 
A playlistsurge suave com Ney Matogrosso
A flauta enche meu coração
“Bate outra vez 
Com esperanças o meu coração”


Penso: as rosas falam sim!
Sigo. 
Ainda com medo dos espinhos, tateando o presente. 
Vendo o hoje com olhos abertos. Desabrochando. Crescendo.
Levanto a cabeça e Marina sussurra:
“Vem chegando o verão, um calor no coração…” 
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Showing 1 comments
  • Claudia Ferrer
    Responder

    Lendo aos suspiros !! Muito bom !

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